- Saibam diferenciar os oportunistas e os discursos conservadores que tentam se apropriar do povo na rua.
- Desconfiem de quem aparece, de uma hora pra outra, com novas bandeiras como o generalizado "combate à corrupção", de "ódio aos políticos e a política" e coisas do gênero.
Há 10 anos, embalados pela faisca dos movimentos contra o aumento das tarifas de transporte em Salvador (Revolta do Buzu) e em Florianópolis (Revolta da Catraca) foi fundado um movimento, composto em sua grande maioria por jovens, que vem abalando algumas cidades brasileiras e ganhando espaço no cenário internacional. Uma dessas cidades, São Paulo, é o centro nervoso do capitalismo brasileiro e parte dela representa o que há de mais conservador, segregrador e elitista na nossa sociedade.
Em 2005, no Fórum Social Mundial, foi realizado a plenária nacional que fundaria a "carta magna" do Movimento Passe Livre (MPL). Naquela época não havia as redes sociais de hoje, mas já usufruiamos das publicações abertas na Internet do Centro de Mídia Independente assim como de blogs e home-pages: chegamos a formar núcleos em cerca de 30 cidades brasileiras, realizamos três encontros nacionais, produzimos jornais impressos, produzimos livros ("A Guerra da Tarifa", 2004), tivemos "lideranças" presas e ganhamos passe livre em cidades com Florianópolis e Rio de Janeiro. Floripa naquela época era nossa São Paulo de hoje, e Marcelo Pomar, Matheus de Castro e Leo Vinícius a tríade que conseguia muito bem "mandar obedecendo", a máxima zapatista que vai de encontro ao principio de horizontalidade do MPL.
Hoje, quase 10 anos depois, não mais como um estudante, vivencio ao meus 28 anos um momento histórico que já está sendo denominado de "Revolta do "Vinagre" ou "da Salada", em referência ao vinagre apreendido pela polícia do Alckmin - polícia que carrega no brasão uma estrela em alusão à ditadura militar. Posso sentir, daqui, o cheiro de gás lacrimogêneo e o barulho das balas de borrachas atiradas covardemente por essa polícia tucana carregada de ranso ditatorial. É desse cheiro de gás, de vinagre..desse incômodo pertubador que essa carta nasce. Ela não é dirigida a vocês para ser uma espécie de "luz" entre fumaças brancas e os fogos das barricadas; é dirigida a vocês para falar de alguns erros do MPL da nossa época para que se possa "errar melhor". Há um poeta que diz: "Tente denovo,
erre denovo, erre melhor". Conversando com um amigo que foi preso e torturado na ditadura militar, ele me disse algo parecido com a frase desse poeta. Ele, que já passou 8 anos em um presídio por ser um "subversivo", me falou que não deveríamos ter medo de errar: "Alexandre, a sua geração tem o dever de tentar denovo e até errar. Mas agora não podem e não devem repetir os mesmos erros", me confessou.
erre denovo, erre melhor". Conversando com um amigo que foi preso e torturado na ditadura militar, ele me disse algo parecido com a frase desse poeta. Ele, que já passou 8 anos em um presídio por ser um "subversivo", me falou que não deveríamos ter medo de errar: "Alexandre, a sua geração tem o dever de tentar denovo e até errar. Mas agora não podem e não devem repetir os mesmos erros", me confessou.
Hoje sou psicólogo, continuo no ativismo, mas sinto-me um pouco, como ex-membro do Movimento Passe Livre, numa posição parecida com essa do meu amigo ao ver integrantes do MPL, de 19 anos, dando entrevistas, furando o cerco midiátio tão difícil pra gente naquela época e realizando um grande movimento histórico. É de se orgulhar ver, em meio ao nervosísmo da voz desses companheiros, a contudência de suas decisões e a firmeza de seus posicionamentos.
Pois bem, estou um pouco por fora da conjuntura do MPL nesse exato momento e nem quero fazer análises que surgem aos montes nesse momento...queria mesmo dizer para não repetirem alguns erros nossos que possibilitaram a dissolução do nosso núcleo daqui. A primeira coisa é:
- saibam diferenciar os oportunistas e os discursos conservadores que tentam se apropriar do povo na rua.
- Desconfiem de quem aparece, de uma hora pra outra, com novas bandeiras como o generalizado "combate à corrupção", de "ódio aos políticos e a política" e coisas do gênero.
- Tirando os jovens que estão iniciando suas militâncias agora, desconfiem de nacionalismo exarcebado e das figuras que não tem e nunca tiveram próximos de movimentos sociais.
- Em tempos de primaveras árabes até a Revista Veja já estampou em sua capa a imagem do "V de Vingança" trazendo implicitamente um discurso conservador e golpista.
- É contra o conservadorismo e pela revogação do aumento da tarifa que o MPL deve lutar.
- Como comentou o colega Marcelo Pomar, agora no seu post na rede social, a pauta é clara:
- Por um Transporte Público, Gratuito e de Qualidade;
- Contra o Estatuto do Nascituro e Redução da maioridade Penal;
- Pelo direito à Memória, Verdade e Justiça contra os crimes da Ditadura Militar;
- Pela Reforma Agrária e Urbana;
- Pela igualdade ampla e irrestrita entre homens e mulheres;
- Pela livre orientação sexual; e
- Pelos Direitos Humanos contra a barbárie da repressão na cidade, no campo, e contra os indígenas.
Nunca, nunca esqueçam isso...
Não se prendam e se desgastem em disputas internas: agora há pouco vi uma matéria pontuando que o "serviço secreto da PM" havia dito que tal partido recrutava alguns militantes. Uma matéria boba e banal com o único objetivo de partir a unidade que vocês tem conseguido. As disputas são normais e até saudáveis em um movimento, mas não devem ser o foco. E ninguém mais que vocês mesmos para saberem quais seus reais objetivos. Atentem-se, obviamente para seus princípios, mas não deixem que virem dogmas ou fundamentalismos. Apartidarismo não quer dizer anti-partidarismo: companheiros de partidos são importantes também na luta e na hora que o bicho pega, quando menos se espera, estão ao seu do lado.
Outra coisa: não se apaixonem por si mesmos. A história está sendo redesenhada. Mas acreditem: o difícil é manter a luta depois que a "fumaça baixar"...é ai que reside o verdadeiro desafio da luta revolucionária e dos movimentos sociais.
Por fim, nesse exato momento estou me dirigindo às ruas, daqui de Fortaleza-CE, para participar de uma manifestação em apoio ao ato de vocês e contra a repressão da polícia militar de São Paulo e do Rio de Janeiro. Estamos em solidariedade incondicional ao movimento e, talvez, iniciando uma mobilização de proporções não vistas há muito tempo...Mas essa mobilização deve ser abaixo e à esquerda, deve saber olhar pra trás, não repetir os mesmos erros do passado e sempre pensar: amanhã vai ser maior!
Fortaleza, 17 de junho de 2013
Alexandre de Albuquerque Mourão (alexzapa) -
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Fonte: CMI - Centro de Midia Independente, Coletivo Aparecidos Políticos (13/06/2013)
vc acha mesmo q o mpl teria conseguido alguma coisa se a população em geral não se tivesse colocado ao lado dele nas ruas de todo o país? Ou nem sabia q em mtas das cidades onde houve protestos nao tinha havido aumento de passagens? cuidado com a vaidade e o narcisismo...
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