De fato, existe uma atividade que é mais politicagem do que política. No entanto, em todas as instituições, há pessoas profundamente éticas e corretas.
Em momentos nos quais o exercício da cidadania parece pouco visível e a alienação social e política tomam formas que chegam até a justificar golpe de Estado, é importante refletir sobre como restituir à política a sua nobreza e dignidade.
Alguns meios de comunicação que se alimentam cotidianamente de assassinatos e assaltos, exacerbam o mesmo sensacionalismo, ao escolher como tema recorrente e quase único a corrupção aparentemente generalizada que assola as instituições públicas. Isso pode deixar em muitos a impressão de que todo político é corrupto e a própria política é sempre ruim.
De fato, existe uma atividade que é mais politicagem do que política. No entanto, em todas as instituições, há pessoas profundamente éticas e corretas. Essas são a maioria das pessoas. A minoria é corrupta e venal. Acontece que uma vida consagrada aos outros e pautada na ética não é notícia. A corrupção, sim, mesmo se ainda não for comprovada e, principalmente, se a sua divulgação favorece a interesses partidários e de classe.
No atual sistema político brasileiro, infelizmente, pessoas se aproveitam de cargos e benefícios públicos para fins privados. Esse mal se implantou em nossas instituições desde a época da colônia. Tomou formas mais sofisticadas a partir dos anos de 1990. A maioria dos brasileiros esperava um rigor maior e uma postura diferente de um governo que prometia uma nova ética e se apresentava como de esquerda ou mais popular.
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Todos queremos governantes que não se omitam e não compactuem com a desonestidade. No entanto, não podemos nos deixar levar por uma carga emocional que condena antes do julgamento e quer punir, sem que haja provas concretas da ilegalidade. Sem dúvida, toda corrupção deve ser condenada, mas a mais grave não é essa que vestais da moral bradam diariamente e sem cessar nos meios de comunicação.
No plano político, a corrupção mais profunda ocorre quando um partido que se apresentava como iniciativa dos trabalhadores e tinha como programa a transformação do Brasil, se acomoda ao poder e troca o projeto de um país justo e igualitário pela mera ambição de ganhar eleições e deter o poder. Para isso, metas fundamentais como a reforma agrária, reforma política e outras reformas de base são deixadas de lado.
Ao fazer todo tipo de conchavo para garantir a tal “governabilidade” pelos caminhos de sempre, o governo coordenado pelo PT se comporta como a gralha da antiga parábola de Esopo. Uma gralha ouviu falar que, em um pombal vizinho, as pombas se alimentavam bem. Então, se pintou de branco, fingiu-se de pomba e foi para o pombal. Deu certo até que, sem querer, ela piou. Ao ouvir o seu granido, as pombas viram que era uma gralha e a expulsaram. Sem alternativas, ela voltou ao meio das outras gralhas que, quando a viram pintada de branco, também não a receberam. E ela ficou sozinha, nem pomba, nem gralha.
No Brasil atual, banqueiros ganham 400% de lucro ao ano. O agronegócio tem até ministério no governo. Grandes empresas de comunicação ganham milhões do próprio governo para desinformar a população e destruir o pouco que foi construído. Mesmo assim, essa elite que representa menos de 10% da população não se conforma e não acredita na gralha vestida de pomba. E ao invés de se achar contemplada por um governo que, depois de eleito, abandonou sua base social, o destrata do mesmo modo. Ignora todas as conquistas sociais e tenta divulgar que o país nunca esteve tão mal como agora. E fomenta as bases para um possível golpe de Estado para libertar o país do “terrível e perigosíssimo” bolivarianismo venezuelano ou simplesmente do comunismo cubano para o qual estaríamos caminhando.
Na Campanha da Fraternidade de 2015, a CNBB propõe o aprofundamento da missão das Igrejas cristãs em sua inserção social e política na sociedade. O papa Paulo VI ensinava que a ação política é a forma mais nobre de se viver a caridade cristã. O objetivo da ação social e política das pessoas que têm fé é testemunhar que o projeto divino de um mundo justo e de paz é possível. É assunto não só dos políticos, mas de todos os cidadãos e, portanto de todos/as que, em meio às lutas do mundo, querem viver em Deus.
O Evangelho de Jesus nos chama para irmos sempre às raízes das questões e trabalharmos por uma transformação radical de todas as estruturas da sociedade. O programa do Conselho Mundial de Igrejas que reúne 349 Igrejas cristãs resume isso no programa: Paz, Justiça e Cuidado com a Criação.
No Brasil atual, banqueiros ganham 400% de lucro ao ano. O agronegócio tem até ministério no governo. Grandes empresas de comunicação ganham milhões do próprio governo para desinformar a população e destruir o pouco que foi construído. Mesmo assim, essa elite que representa menos de 10% da população não se conforma e não acredita na gralha vestida de pomba. E ao invés de se achar contemplada por um governo que, depois de eleito, abandonou sua base social, o destrata do mesmo modo. Ignora todas as conquistas sociais e tenta divulgar que o país nunca esteve tão mal como agora. E fomenta as bases para um possível golpe de Estado para libertar o país do “terrível e perigosíssimo” bolivarianismo venezuelano ou simplesmente do comunismo cubano para o qual estaríamos caminhando.
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O Evangelho de Jesus nos chama para irmos sempre às raízes das questões e trabalharmos por uma transformação radical de todas as estruturas da sociedade. O programa do Conselho Mundial de Igrejas que reúne 349 Igrejas cristãs resume isso no programa: Paz, Justiça e Cuidado com a Criação.
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Marcelo Barros é monge beneditino e teólogo. Atualmente, é coordenador latino-americano da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT) e assessora comunidades eclesiais de base e movimentos sociais.