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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O Fantasma Cambial que Assombra a Presidenta Dilma

Por Paulo Franco



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CORRIGINDO INFORMAÇÕES EQUIVOCADAS DA IMPRENSA SOBRE A COTAÇÃO DO DOLAR EM RELAÇÃO AO PASSADO.

Eu decidi fazer esse adendo em função de cometários totalmente equivocados divulgados pela grande mídia no Brasil sobre a cotação atual do dolar em relação às cotações passadas.   Como já disse aqui, nossa grande imprensa, incluindo os analistas econômicos e políticos não são confiáveis. 

Seus comentários são mais uma discurso de guerra ao atual governo do que uma explanação técnica, séria e verdadeira da realidade.  Por isso tenho alertado às pessoas a não tomarem decisões, principalmente de investimento, com base nas informações divulgadas por esses jornalistas do grupo Globo, Estadão, Abril, Band, etc. 

No dia 28/07/2015 o dólar fechou cotado a R$3,38 e os jornalistas, por ignorância ou por má-fé divulgaram que a cotação estava próxima do valor atingido em 10 ou 12 anos atrás.  Ora não se pode falar em qualquer preço, seja de ativos financeiros ou outros bens sem considerar uma atualização monetária.  Afinal, vivemos mundo onde a inflação é uma realidade inexorável. 

Neste trabalho, desenvolvido em fevereiro deste ano, mostrei alguns picos do dólar no passado e sua atualização monetária para o mes de janeiro deste ano.  No último gráfico, ao final do trabalho pode ser constatado que o valor de 22/10/2002 atualizado para janeiro deste ano seria de R$ 8,38.

Com a atualização para 28/07/2015, esse valor seria de R$ 8,84.  A cotação nessa data como já disse anteriormente foi de R$ 3,38, portanto a moeda brasileira deveria desvalorizar mais de 100% para encostar no pico conseguido no final do governo de FHC. 

Vale ressaltar que no governo FHC a volatilidade dos preços não só do dólar como também dos preços em geral era extremamente elevada e variações de 100% no dólar ocorreu mais de uma vez.   Mas também é importante lembrar que o cenário naquela ocasião era degradante, tanto nas contas públicas internas como nas externas.  O Brasil estava extremamente vulnerável, em frangalhos e a volatilidade era uma consequência natural, embora danosa e pessima para a sociedade e o país. 


31/07/2015
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INTRODUÇÃO


A variação da cotação do dólar tem sido alvo de discussões por economistas, analistas financeiros e principalmente comentaristas econômicos dos jornais televisivos. Tem até gerado um certo nível de apreensão.

No final de 2013 o dólar já vinha sofrendo uma pressão compradora e fechou 2013 em R$ 2,34. A pressão altista continuou mantendo a cotação entre R$ 2,30 e R$ 2,40 em janeiro e fevereiro.

Em março a pressão altista diminuiu e as cotações mantiveram-se em torno de R$ 2,20 no período de abril até agosto.

Em setembro, já perto das eleições o dólar retomou um processo altista, desta vez mais forte atingindo em novembro cotações inéditas para o período pós crise financeira global. A moeda americana subiu 4,3% em setembro, 4,1% em outubro, 3,4% em novembro e 7,0% em Dezembro. A moeda americana fechou o ano de 2014 cota a R$ 2,6541, com uma valorização de 21% no segundo semestre.

 

Real brasileiro x Dólar americano



 

É O FED QUEM DETERMINA A COTAÇÃO DO DOLAR NO BRASIL


As primeiras explicações para o comportamento da taxa cambial, expressadas pelos analistas e comentaristas midiáticos residiam na reeleição da candidata petista, na indefinição da nova equipe econômica, na deterioração dos parâmetros macroeconômicos domésticos e na crise na Petrobrás.

Todavia num exame mais cuidadoso podemos verificar que os parâmetros macroeconômicos e políticos internos influenciam as cotações do dolar no Brasil, mas não na relevância que se imagina. O verdadeiro "driver" da trajetória do câmbio brasileiro é o FED (Federal Reserve). Sim o órgão americano equivalente ao Banco Central brasileiro.
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Como já é do conhecimento de todos, os Estados Unidos adotou um programa de estimulo à economia (QE - Quantitative Easing), com a injeção de US$ 85 bilhões de dólares mensais.

Em 2013, de janeiro a abril a cotação da moeda americana situava-se ao redor de R$ 2,00. A partir de maio com o rumor do encerramento do programa de estímulos à economia (QE), a cotação da moeda americana no Brasil começou a sofrer uma pressão altista, atingindo em meados de agosto a cotação máxima de R$ 2,45, quando o FED adiou o corte dos estímulos e a moeda inverteu a pressão e passou a cair, se estabilizando numa faixa entre R$ 2,15 e R$ 2,20.

Em dezembro de 2013, o dólar volta a disparar, novamente em função dos rumores de que o FED iria cortar o programa de estímulos. No dia 18 de dezembro, o FED finalmente anuncia a redução de US$ 10 bilhões mensais no programa de estímulos monetários "QE" e o cambio volta a bater nos R$ 2,45.

O mercado consegue digerir a política de retirada paulatina dos estimulos pelo FED e o mercado cambial volta a se arrefecer com a cotação do dolar oscilando entre R$ 2,20 e R$ 2,30 no período de abril até setembro de 2014.

Mas a partir de setembro alguns fatores convergiram pressionando a valorização do dolar, como a continuada da melhora da economia americana, o fim definitivo da injeção de moeda na economia pelo governo americano (QE), as perspectivas cada vez mais concretas de elevação das taxas de juros a partir do 2o. trimestre de 2015, a queda dos preços das commodities e a deterioração da economias do mundo todo.


A VALORIZAÇÃO DO DÓLAR NÃO SE RESTRINGE AO BRASIL




A valorização do dólar não ocorreu somente em relação ao Real brasileiro, mas em relação a praticamente todas as moedas, algumas obviamente se desvalorizaram mais que outras, em função de circunstâncias internas específicas.

O gráfico acima mostra os países que tiveram suas moedas mais desvalorizadas em relação ao dólar, no período de maio de 2014 a janeiro de 2015. O grande destaque fica para a Rússia que teve uma desvalorização de 98,6%  nesse período.  Três fatores influenciaram a acentuada queda do câmbio na Russa, a participação no conflito com a Ucrânia, as sanções econômicas impostas pela Europa e os EUA e a forte dependência econômica do Petróleo num momento em que a commodity está tendo a sua maior queda de preços nos últimos tempos, cerca de 55% só no segundo semestre de 2014.

A segunda moeda em perda nesse período foi a Coroa Norueguesa, também agravada pela alta dependência econômica do petróleo. Na verdade, guardadas as devidas peculariedades de cada país, todos que adotam o regime de câmbio flutuante, deverão sofrer pressões baixistas ou já estão sofrendo.


EVOLUÇÃO DA COTAÇÃO CAMBIAL DE ALGUMAS MOEDAS FRENTE AO DOLAR


Rublo russo x Dólar americano








Coroa norueguesa x Dólar americano






Dólar australiano x Dólar americano










 

QUAL É O RISCO DE UMA CRISE CAMBIAL NO BRASIL?


Conforme já descrito acima, há uma pressão do dólar americano sobre todas as demais moedas ao redor do mundo. O real, seguindo essa mesma tendencia, deverá continuar pressionado, em função das condições econômicas domésticas e da condições internacionais.

Não será nenhuma novidade a cotação da moeda americana ultrapassar os R$ 3,00 no curto ou médio prazo. Evidentemente que a cotação vai depender do desempenho da nossa gestão econômica, mas principalmente da recuperação econômica dos países desenvolvidos, uma recuperação e diminuição da volatilidade dos preços do petróleo, e a política do FED para as taxas de juros americanas.

Para facilitar uma avaliação de possíveis variações bruscas no câmbio selecionei os principais picos de cotação do câmbio nos últimos quinze anos e atualizei os valores, utilizando como indexador, o IPCA do IBGE, que é o índice oficial considerado para medir a inflação, para 30 de janeiro de 2015.

Os valores selecionados corrente e atualizados foram plotados no gráfico abaixo. Como pode ser visto, o primeiro pico ocorreu na crise cambial de 1999, quando tivemos um ataque especulativo internacional , já que o câmbio era controlado pelo governo e praticamente dobrou em poucos dias, atingindo no dia 03 de março a cotação de 2,16 reais por 1 dolar. Esse valor atualizado pelo IPCA representaria uma cotação de R$ 5,55 / US$.

No dia 29 de setembro de 2001 o dólar deu outro pulo, atingindo a cotação de R$2,80, equivalendo R$ 6,01 atualizados. No dia 31 de julho a cotação atingiu R$ 3,43 ou R$ 6,47 atualizados, outro recorde.

Em outubro e dezembro de 2002 as cotações atingiram respectivamente R$ 3,96 e R$ 3,80 e em valores atualizados R$ 7,35 e R$ 7,81.

Essa análise comparativa é importante para termos uma noção do quão próximo ou distante estamos de valores que ja vivenciamos em momentos de crise.   Cotações no intervalo de R$ 5,55 a R$ 7,81 nos remeteria a uma semelhança com a crise no 2o. mandato do governo FHC.

É evidente que o cenário internacional prenuncia a continuidade desvalorização das moedas em relação ao dólar americano, como também uma elevação dos juros internacionais em geral, puxada por um inexorável processo de elevação das taxas de juros americanas. a ser desencadeado a proximamente,  para coibir uma eventual elevação da inflação, decorrente da uma melhora no nível das atividades que vem sinalizando a economia dos EUA.

Com isso haverá um redirecionamento global dos investimentos para títulos americanos com a melhora da remuneração.  Consequentemente todos os países vão se defender de um movimento de fuga de capitais, através da elevação de taxas dos juros domésticos.  Paises emergentes como o Brasil, ao que tudo indica, deverão sofrer mais com esse processo, aliás como já está acontecendo e a elevação das taxas de juros como medida de contenção do processo inflacionário será inevitável.  O consolo é que, além  ajudar a conter a saída de capitais, a elevação dos juros básicos contribuirá para atenuar a pressão altista do cambio.

Apesar das ameaças serem fortes e sérias, o Brasil se encontra hoje numa situação muito mais cômoda, do ponto de vista da vulnerabilidade à choques externos.

  • Regime Cambial: O pais conta com um regime de câmbio flexível, ao contrário do passado.  
  • Crédito: Hoje não somos mais devedores internacionais, mas sim credores, com um estoque de quase US$ 400 bilhões em reservas internacionais.  
  • Divida Externa: A participação da divida externa na dívida pública é bastante baixa, minimizando o impacto, ao contrário de outros países.  
  • IED - Investimento Estrangeiro Direto: O Brasil tem conseguido receber um volume de investimentos externos recordes nos últimos anos girando em torno de U$ 65 bilhões anuais, enquanto que nos períodos de crise, tanto em 99 quanto em 2002, esses valores ficavam entre 10 e 15 bilhões de dólares.  Com toda a crise de confiança propagada pelos analistas, o país tem sido nos últimos anos, 2014 inclusive, o 3o. pais na preferência para o IED, perdendo só para a China e os EUA.
  • Sistema Financeiro: O sistema financeiro brasileiros é uma dos mais sólidos do mundo, considerando indices de capitalização,  líquidez e de provisionamento. 

O Brasil conta ainda com um Banco Central eficiente, que atua em sintonia com o Tesouro nacional na gestão do câmbio e juros minimizando riscos para a economia real.














 

PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS COM A DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL


A mudança da taxa cambial para um patamar mais alto tem dois efeitos antagônicos principais.

De um lado, um valor mais alto do dólar eleva o preço dos produtos importados, inclusive materias primas e componentes, pressionando a inflação.

De outro lado, torna os produtos brasileiros mais baratos e competitivos internacionalmente, favorecendo um aumento da exportação, contribuindo para o equilíbrio da balança comercial.

Parece que há um certo atraso na nossa taxa cambial, provocada pela elevação das exportações no passado recente, principalmente das commodities, prejudicando a competitividade da nossa indústria.  Provavelmente, passado esse ciclo de pressão altista, o câmbio não voltará mais aos patamares anteriores.  Primeiro em função da nova realidade econômica global, em segundo em função de uma nova realidade em nossa economia também.

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