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domingo, 18 de dezembro de 2016

Islândia atribui sua recuperação à recusa em aplicar a austeridade

Por Lluis Pellicer

“Interesses econômicos em uma mão e a democracia na outra”

Rei Felipe VI recebe o presidente de Islândia, Ólafur Ragnar (à esq.).  EFE
O colapso dos bancos no final de 2008 levou a Islândia a perder 8% de sua riqueza em dois anos e a uma taxa inédita de desemprego de 11,9%. A economia da ilha deu uma guinada a partir de 2011. Baseada sobretudo no turismo, nas exportações pesqueiras e na indústria de alumínio, a Islândia recuperou o terreno perdido: hoje, a taxa de desemprego oscila entre 3% e 4% e o Governo previu
uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,3%. O presidente do país, Ólafur Ragnar Grimsson, atribuiu parte dessa recuperação ao fato de não ter levado em consideração os conselhos dos órgãos internacionais, em particular a Comissão Europeia, para que aplicasse medidas de austeridade.

Apesar de recusar-se a dar conselhos à Grécia, que nesta quinta-feira teve sua proposta de estender a ajuda ao país por seis meses rejeitada pela Alemanha, o presidente islandês destacou que a União Europeia se enganou no caso de seu país. “Por que deveriam ter razão em outros?”, colocou.

O presidente islandês fez na quarta-feira uma conferência na escola de negócios Iese, na Espanha, e depois almoçou com jornalistas. Ólafur Ragnar Grimsson recomendou que a UE tire suas conclusões sobre a crise e a recuperação da Islândia e pediu a manutenção do equilíbrio entre “a democracia” e os “interesses econômicos”. “Os interesses econômicos em uma mão e a democracia na outra”, disse.

O presidente disse que a população não deve sofrer com medidas de duros cortes orçamentários e elogiou a combinação empregada pelo país, que passou por renegociar a dívida (a Islândia recusou, em um plebiscito, a pagar pelos erros de seus bancos) e uma desvalorização da moeda. O país, entretanto, mantém controles severos de capital desde 2008 e somente agora começa a questionar se deve eliminar ou não as restrições que bloqueiam a livre circulação de fundos por uma quantia que equivale a 50% do PIB.

Depois da Islândia iniciar, em 2009, as negociações para incorporar-se à União Europeia, em 2014 o Governo de centro-direita decidiu rompê-las. O presidente assegurou na quarta-feira que essa opção não foi “esquecida”, uma vez que parte do país ainda pede a integração. O chefe de Estado da Islândia, entretanto, admitiu que a questão pesqueira pesa na decisão. Vigora no país um sistema de cotas que o Governo e o setor pesqueiro defendem a todo custo e que desperta receios em Bruxelas, sobretudo em relação à pesca da sarda. Ólafur Ragnar Grimsson sustenta que a Islândia “nunca aceitará” essas condições. Ainda assim, afirmou que o debate continua e relembrou que o país já faz parte de vários acordos econômicos e de segurança do continente.

O presidente da Islândia explicou que hoje o turismo e as exportações de pescado, sobretudo de bacalhau, são as bases do país. A indústria turística há três anos cresce a um ritmo de 15% a 20%, o que a princípio ocorreu por conta da desvalorização da moeda, com as propagandas turísticas tendo sido lançadas depois. Em um país de 320.000 habitantes, a cada ano um milhão de turistas são recebidos, vindos sobretudo da Europa e dos Estados Unidos, mas agora também da Ásia. “Nos próximos 5 ou 10 anos o desafio é continuar com a mesma experiência sem danificar o meio ambiente”, disse o presidente islandês. Ele destacou que a crise financeira levou trabalhadores a mudar de setor, o que fomentou a criatividade e a inovação.
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FONTE: El PAÍS 

Lluis Pellicer foi ministro de Finanças da Grécia

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