quinta-feira, 21 de maio de 2015

Petrobras ou Vale, qual mesmo está em maus lençóis?

Por Paulo Franco


O desempenho da Petrobras é realmente tão ruim como é amplamente divulgado pela imprensa e pelos analistas financeiros?  Para fundamentar minha análise vou usar uma das maiores empresas nacionais, a Vale. 

Como sabemos a Vale foi privatizada, enquanto que a Petrobras não, continuando como em empresa estatal de capital misto.

O interesse pelos paralelo que pretendo construir tem as seguintes  razões objetivas:
  • há uma discussão doutrinária e até ideológica quanto a questão do desempenho entre uma empresa privada e uma estatal.
  • Ambas as empresas tem tamanho e importância semelhantes, tanto no cenário doméstico quanto no cenário internacional.
  • Ambas as empresas atuam em segmentos semelhantes, tendo relação direta com o mercado de commodities.
  • Há uma crença que uma empresa privada, aqui representada pela Vale, é mais eficiente, imune de corrupção e praticas viciadas como o nepotismo, com mais liberdade de gestão, com mais velocidade no processo de decisório e portanto com resultados e retorno do capital melhores. 
  • Há uma crença na mesma linha, que uma empresa estatal, aqui representada pela Petrobras, é muito ineficiente,  consumida pela corrupção, vulnerável ao intervencionismo nocivo do estado, palco de praticas que vai do nepotismo e outras fraudes, com um processo decisório lento e por conseguinte apresenta baixos resultados com retorno de capital extremamente baixo. 


EVOLUÇÃO DO LUCRO



Para facilitar a percepção, plotei a evolução dos lucros líquidos anuais das duas empresas, no gráfico ao lado.

Através do gráfico fica fácil perceber que o desempenho da Petrobras foi melhor do que o da Vale no período de 2002 a 2014.
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Outra variável fundamental a favor da Petrobras é a volatilidade (risco) dos resultados obtidos ano a ano.  Os resultados da Petrobras tem baixa variabilidade, além de ter sido sistematicamente crescentes não sendo observado prejuízo em nenhum ano nesse período.

A Vale, por outro lado, além de uma maior volatilidade, apresentou nos últimos 3 anos , resultados bastantes deprimidos, praticamente zerando em 2013 e 2014.



O gráfico dos lucros acumulados, reforça a constatação da diferença de desempenho financeiro entre as duas corporações.

Ao longo dos anos os números demonstram claramente a diferença, onde a Petrobras consegue o dobro do resultado da Vale, atingindo no período de 2002 a 2014 a cifra de R$ 329 bilhões, R$ 160 bilhões em favor da Petrobras.


PETROBRAS TEM LUCRO DE 5,3 BILHÕES DE REAIS E VALE TEM PREJUÍZO DE 9,5 BILHÕES



Tomemos os resultados trimestrais, para uma análise de prazo mais curto.  Na abordagem  do resultado trimestral fica evidente a discrepância do desempenho operacional e econômico da Petrobras em relação à Vale.

Como pode ser visto no gráfico, a Vale teve um resultado terrível no último trimestre de 2013, amargando um prejuízo final de R$ 15 bilhões.

Embora tenha se recuperado no 1º e no 2º trimestres de 2014, com resultados de R$ 5,9 bilhões e R$ 6,7 bilhões, do 3º trimestre de 2014 em diante a situação voltou a se degringolar, preocupando a administração e os acionistas da Vale.

A Petrobras ao contrário veio apresentando lucros após lucros oscilando apenas no intervalo entre R$ 5 e R$ 6 bilhões, exceto no 3º trimestre quando conseguiu um lucro líquido de apenas 3,1 bilhões.

O 1º trimestre de 2015 deixa claro a situação das duas empresas, principalmente quando às perspectivas futuras, se não houver uma mudança radical na economia global e principalmente na China, grande cliente da Vale.  A Petrobras apresentou um lucro de R$ 5,3 bilhões e a Vale teve um gigantesco prejuízo de R$ 9,5 bilhões.


O MERCADO INTERNACIONAL DE COMMODITIES

 



























O mercado internacional de commodities foi caracterizado por uma queda de preços sistemática e acentuada nos últimos 12 meses, com uma leve e ainda hesitante recuperações nesses últimos 2 meses.

Importante destacar que a queda nos preços do petróleo foi muito mais acentuada do que o preço das commodities, aqui considerando o índice CRB da Thompson Reuters.  Enquanto que o índice uma queda máxima de 35% entre  a máxima atingida em junho de 2014 e a mínima atingida em março de 2015. 

O petróleo apresentou uma queda extremamente agressiva, atingindo 60% entre o pico e a fundo observados no mesmo período.  Os gráficos acima mostra a evolução de ambos os preços.


A PETROBRAS, A VALE E O MERCADO DE AÇÕES
















Tanto os preços da Vale como da Petrobras experimentaram períodos turbulentos, apresentando uma volatilidade bastante alta, com uma tendência declinante acentuada.

No período compreendido entre julho de 2014 ao início de abril de 2015, os preços das ações da Vale mergulhou apresentando uma queda acumulada no período de 49%, ou seja, reduzindo quase à metade de seu valor de mercado.

A partir de meados de abril os preços ensaia uma tendência altista apresentando uma valorização de 49% em relação ao preço mais baixo do período, mas ainda está muito longe, nem na metade do valor de mercado em junho de 2014.

Não há sinais consistentes de que há uma recuperação das ações da Vale,  já que o cenário internacional, tanto quanto à recuperação dos níveis de atividade econômica, como também, da recuperação dos preços das commodities, principalmente os preços do minério de ferro.

Alias os resultados trimestrais, inclusive o prejuízo de R$ 9,3 bilhões no 1º trimestre deste ano,  já demonstrados nos gráficos anteriores, indicam uma  situação nada boa para a Vale num futuro próximo. 














No período compreendido entre julho de 2014 ao início de abril de 2015, os preços das ações preferenciais da Petrobras despencou violentamente,  apresentando uma queda acumulada no período de 68%, ou seja, reduzindo mais da metade de seu valor de mercado.

A partir de meados de abril os iniciaram uma recuperação apresentando uma valorização de  quase 90% em relação ao preço mais baixo do período, mas ainda não alcançou nem na metade do valor de mercado em junho de 2014.

Esse recuperação reflete  ocorrências tanto no cenário externo, quanto no cenário doméstico.  No cenário externo, destaca-se  uma pequena recuperação dos preços do petróleo.  No cenário doméstico, com a divulgação do balanço de 2014, quando foram contabilizadas os ajustes decorrentes da operação lava jato, tanto na apropriação das perdas com com pagamentos indevidos (propinas) no valor de R$ 6,2 bilhões, como os ajustes decorrentes do "Impairment" de R$ 44,6 bilhões. 

Os valores desses ajustes foram expurgados dessa análise pelos seguintes  motivos: 
  1. O princípio da contabilidade do regime de competência, estabelece que a contabilização dos eventos que afetam resultados e valores dos ativos devem ser efetuados na data de sua ocorrência e não na data de seu pagamento ou reconhecimento. 
  2. Os valores considerados foram estimativos, não tendo sido divulgado qual o nível de confiabilidade (risco probabilístico) desses valores.  
  3. Os ajustes referem-se, na realidades a fatos ocorridos no passado e em datas imprecisas sendo impossível nesse caso obedecer o principio do regime de competência, sendo obrigatoriamente, pela regulamentação, ter que ser efetuado de uma só vez.
  4. A presente análise é econômica  tendo por objetivo aferir o desempenho da empresa e as perspectivas futuras de geração de resultados.
  5. A manutenção dos ajustes efetuados contabilmente, só serviria para mascarar o resultado obtido pela empresa em função de suas operações normais, distorcendo totalmente a análise e os prognósticos. 

PRÉ SAL, PRODUÇÃO E CUSTO DE EXTRAÇÃO


Duas informações são extremamente relevantes para a geração de lucros futuros:  a produção e o custo de extração.  

A produção do pré-sal continua crescente, com recordes atingidos a cada mês.   O último recorde de produção do pré-sal ocorreu no dia 11 de abril, com uma vazão de 800 mil barris por dia.  São 39 poços, dos quais 20 na Bacia de Santos e 19 na Bacia de Campos.  Esse recorde foi atingido há apenas 8 anos da primeira descoberta do pré-sal.

O custo de extração do pré-sal continua numa trajetória de queda.  O custo atual é de US$ 9 o barril. O custo de extração médio de extração de toda a cia é de US$ 14,60. 

Essas duas informações contribuem para que se tenha uma percepção da sustentabilidade dos resultados futuros da Petrobras.


CONCLUSÕES


  • Tanto a Vale como a Petrobras sofreram bastante  nestes últimos anos.
  • Há fatores distintos e fatores semelhantes que castigaram a Petrobras e a Vale
  • A retração do mercado internacional afetou as duas empresas, mas afetou mais a Vale que é mais vulnerável ao mercado internacional, principalmente, a China.
  • A violenta queda nos preços das commodities e do Petróleo afetaram os resultados das duas empresas com ligeira diferença.  A queda dos preços do Petróleo foi mais acentuada do que das demais commodities, mas a Petrobras é menos vulnerável aos preços do que a Vale que é mais dependente de exportações.
  • A Petrobras está vivendo sob fogo cerrado no campo político, já que é uma empresa estatal.  Tanto a interferência governamental, quanto a pressão sobre a empresa e o mercado por parte da oposição que tem orientação privatista.
  • A Petrobras convive ainda com um alto nível de corrupção, que tem historicamente sangrado a companhia. 
  • A evolução dos resultados tem mostrado uma estabilidade, e as perspectivas são boas, 
  • Passado esse período de turbulência política e da operação Lava jato, as perspectivas da empresa são boas, como tem mostrado os resultados anuais e trimestrais.
  • A Vale tem apresentado um desempenho ruim não por fatores  extra operacionais como a Petrobras, mas por fatores inerentes à suas operações, ou seja, volume de vendas e preço de venda dos produtos.  Por conseguinte a situação da  Vale é mais complicada, pois depende de uma recuperação no nível de atividade econômica internacional, e principalmente da China que vem diminuindo seu crescimento ano a ano, e uma consequente melhora nos preços dos seus produtos .


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