domingo, 27 de setembro de 2015

Não basta ser coxinha, tem que ser otário

Por Paulo Franco


Manipulado e estimulado por uma mídia declaradamente canalha, o coxinha, que tem a índole frágil, uma arrogância exacerbada, um personalidade violenta e agressiva, com uma capacidade intelectual limitada para refletir e analisar os fatos e o contexto que o envolve tem sido um elemento útil para os conservadores mas perigoso para para a sociedade. 

O caso "Johnny Depp e os aparelhos auditivos" é mais um desses exemplos, entre milhares, onde se repete a precipitação, a superficialidade, a leviandade, a irresponsabilidade no trato de um fato.

A má índole dos coxinhas (pessoas de extrema direita, desinformada, preconceituosas, violentas e sem caráter), chega ao nível de escrever frases em nome de celebridades (para dar credibilidade) expondo essas pessoas perante seu fãs, seus admiradores e até seus amigos.


Muitos desses atributos são decorrentes do passionismo ideológico e a catalização da mídia, somado ao velho complexo de inferioridade e  da baixa auto estima, eternizado como "complexo de vira-latas" pelo escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues. 
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A FANTASIA E A VERDADE DOS FATOS 

"Johny Depp em um dia doa 200 aparelhos auditivos e zera a fila do SUS".  Ora, não há nada mais infantil que essa afirmação.  Como 200 aparelhos zeraria a fila do SUS.  Porque as pessoas não se informa melhor, antes de expor ao ridículo dessa forma.  Zerou a fila naquela unidade?  Pode ser, mas qual a significância desse ato em termos de Brasil?   Seria motivo para esse circo todo?

A Secretaria da Saúde da Prefeitura do Rio de Janeiro promoveu uma ação em conjunto com a Starkey Hearing Foundation para distribuir 215 aparelhos para deficientes auditivos.  As duas instituições aproveitaram a vinda da banda Hollywood Vampires, convidando-os para participar da ação, dando mais visibilidade ao evento.  Johnny Depp e Alice Cooper representaram a banda.

Johnny Depp tem uma conduta conhecida de ajuda humanitária, principalmente com crianças.  Ele tem ajudado hospitais infantis nos EUA, Inglaterra, Australia e outros países.  Além dessas ajudas financeiras, ele normalmente oferece ajuda afetiva e diversas outras formas explorando o que ele tem de mais forte que é sua fama, seu carisma, seu reconhecido caráter. 

Os aparelhos foram doados pela Starkey Hearing Foundation, dentro de um programa que já pratica há décadas ao redor do mundo.  

Essa fundação pertence a Starkey Hearing Technologies, empresa dedicada a produção de produtos e soluções para a audição, portanto é uma empresa convencional com fins lucrativos.  Suas marcas são: Starkey, Audibel, Microtech e NuEar. 









Portanto é importante que tenhamos em mente que esse evento é ao mesmo tempo um serviço de saúde, portanto obrigação do estado,  um ato filantrópico, mas também uma ação mercadológica, que tem por objetivo promover as marcas e os produtos da Starkey Hearing Technologies. 


O SUS, OS APARELHOS AUDITIVOS E A SAÚDE

Todos sabemos que temos um gap enorme nos serviços básicos ao cidadão, de responsabilidade do estado.  Isso acontece tanto na saúde como na educação, segurança, etc.  Mas não podemos olhar só a "parte vazia do copo", é importante reconhecermos não só a parte cheia do copo, como também o quanto esse copo vem sendo preenchido nos últimos tempos.  Mas cabe acima de tudo reconhecer um dos maiores sistemas de saúde gratuita mundo e seus relevantes serviços às populações carentes. 

O SUS já distribuiu mais de 600 mil aparelhos auditivos gratuitamente.  Conheço pessoas que têm dois aparelhos recebidos de forma totalmente gratuita.  Uma Organização Não Governamental (ONG) que se dedique a ajudar pessoas com deficiências auditivas é mais importante para outros países e até para os EUA do que para o Brasil. 

Não há no mundo um sistema de saúde como o SUS que cobre mais de 100 milhões de pessoas com consultas médicas, exames laboratoriais e de imagens, todas as cirurgias, internação hospitalar, etc. 

O SUS oferece a toda a população também, a distribuição nacional de medicamentos para dezenas de doenças, incluindo exames e medicamentos de alto custo além de transplantes, aplicações de próteses e outras profilaxias.  

Sem falar que o Brasil é o país que tem o maior programa de vacinação no mundo. 

Comparando com os EUA, que é o modelo de paraíso para a nossa  classe conservadora, nada disso é oferecido.    Os EUA embora tenha o maior gasto com saúde per capita do mundo, a assistência gratuita é totalmente marginal.  O aparelho para surdez, por exemplo, não é oferecido gratuitamente para a população, carente ou não. 

Um quarto da população americana, ou 50 milhões de pessoas, estão fora dos sistemas de saúde privado.  Essas pessoas simplesmente estão entregues à própria sorte. Não há consulta gratuita, não há exames gratuitos, não há internação gratuita, não há cirurgia gratuita, não há distribuição de medicamentos gratuita.  

Para agravar o quadro da saúde dos americanos pobres, todo o sistema de saúde americano é cartelizado, não há concorrência, tanto na atividade médica quanto na hospitalar.  Há uma série de barreiras corporativas que impedem a concorrência e por consequência acarretam uma elevação exorbitante dos preços, tanto das consultas, como dos exames e de custos hospitalares.

Nos EUA, para quem não tem uma boa renda e um bom plano de saúde, a opção é a venda da casa ou a morte se o caso for grave.  Não há nenhum tipo de compaixão. 

Os  serviços do governo Medicare e Medicaid existentes são marginais, conforme pode ser constatados em diversos artigos publicados na imprensa americana e europeia.

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