Fotos de desembargadores ilustram como a meritocracia premia homens brancos
Funda-se na ideia de que todos competem em igualdade, bastando estudar e se dedicar para alcançar o tão almejado sonho profissional. São discursos utilizados para rechaçar, por exemplo, cotas raciais e sociais em universidades e concursos públicos, pois seria inconcebível favorecer alguém em detrimento de uma pessoa branca que tirou uma nota maior.
Trata-se de um tema rebatido diariamente pela realidade e o Judiciário não foge da regra. Segundo o censo de 2014, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), percebe-se a aprovação absurdamente maior de pessoas brancas em relação às negras e indígenas. Defender a meritocracia com base nesse gráfico seria dizer que brancos estudam mais e são mais inteligentes, tratando-se de uma afirmação racista que desconsidera os séculos de escravidão e exclusão de minorias de acesso às políticas públicas no país. Como é visível no gráfico abaixo, o Judiciário é branco:
![]() |
Pesquisa realizada pelo Censo do CNJ em 2014 |
Dentro do racismo e do classismo, uma vez que falar de pobreza é também falar de negros e negras, ante a histórica marginalização sofrida pela população na escravidão e no pós escravidão, há também
a supremacia masculina nas composição do Poder Judiciário, como se percebe no gráfico abaixo. Ou seja, homens brancos seguidos por mulheres brancas, que estão à frente dos homens negros e atrás na fila estão as mulheres negras.

Para entender essa realidade em imagens, basta observas as fotos de juízes e desembargadores em eventos ou poses oficiais. É um “mar” de homens brancos, com algumas poucas mulheres brancas e ainda mais raros homens negros e nenhuma mulher negra. Veja alguns exemplos:
Tribunal de Justiça do Pernambuco (TJPE)
De acordo com dados oficiais, a composição de gênero é de maioria feminina (52%) e a composição étnica da população pernambucana é constituída por negros e pardos (58,2%), brancos (40,4%) e índios (0,5%). Muitas mulheres não estão na foto, mas são alvo de vários processos judiciais, afinal nesse estado 81% das mulheres encarceradas são negras.
Na foto oficial do Tribunal de Justiça, os rostos falam e as ausências também.
![]() |
Foto: TJPE |
Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro – 1ª Região
Tapete vermelho e muita pompa para os desembargadores do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, mas o padrão é exatamente o apontado pela pesquisa do CNJ. A foto contrasta com a população étnica do estado com brancos (53,6%), seguidos por negros e pardos (45,9%) e amarelos ou indígenas (0,5%).
![]() |
Foto: TRT/RJ |
Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP)
De acordo com os dados do Censo Demográfico de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estática), na cidade de São Paulo habitam mais de 11,2 milhões de pessoas, sendo que cerca de 37% (4,1 milhões) se declararam negros (pretos ou pardos). Quando se trata de população negra, era considerada maioria da população brasileira em 2014, representando 53,6% da população, ao ponto que 45,5% dos brasileiros se declaravam brancos.
![]() |
Foto: TJ-SP |
Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR)
Essa foto do Tribunal do Paraná também diz muito: São 14 homens brancos. Menos da metade de mulheres: 5 mulheres (também brancas). A contradição é clara ao analisar os dados do IBGE, que apontam para um total de 1.751.907 habitantes no só em Curitiba. Desses, mais de 916 mil residentes são mulheres, claramente não representadas.
![]() |
Foto: TJ-PR |
Tribunal de Justiça do Acre (TJAC)
De acordo com o Censo do Judiciário, o TJPB tem 47,4% dos magistrados que se declaram negros, sendo o Estado com maior número de juízes negros do país.
![]() |
Foto: TJ-AC |
Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB)
Ainda de acordo com o Censo do Judiciário, o TJPB tem 26,5% dos magistrados declarados como negros e mais de 73%, brancos. Os dados mostram que a corte está acima da média nacional que é de 15,5%.
![]() |
Foto: TJ-PB |
Nenhum comentário:
Postar um comentário