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quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Celso Amorim: servi com um estadista​ (Lula)

Por Celso Amorim

O fórum IBAS (Índia, Brasil e África do Sul)não somente abriu novos caminhos para a cooperação sul-sul como esteve na raiz da criação do BRICS, que se constituiu em importante fator de equilíbrio na ordem econômica internacional, até então dominada pelo G7 (grupo de economias mais ricas).

Celso Amorim discursando na Assembleia Geral da ONU

Foi com enorme honra que recebi, em dezembro de 2002, o convite do Presidente Lula para ser seu Ministro das Relações Exteriores. Diplomata de carreira, eu fora chanceler de Itamar Franco e havia representado o Brasil,em diversos governos, perante às Nações Unidas, em Nova Iorque, à Organização Mundial do Comércio e outras organizações internacionais em Genebra. Quando recebi o convite, era Embaixador do Brasil junto ao governo britânico. 

A opção do presidente recém-eleito por um funcionário de carreira já denotava sua visão sobre como deveria ser conduzida a política externa em seu governo, já que não faltavam, nos próprios quadros do Partido dos Trabalhadores, pessoas com qualificações e com amplo conhecimento e experiência na realidade internacional. Mais do que qualquer outra coisa – uma vez que jamais tivéramos contato direto – , o Presidente Lula quis significar, com essa opção, que a política externa do Brasil, sem deixar de ser sensível aos anseios populares que o levaram ao poder, seria, sobretudo, uma política de Estado.

Desde logo, percebi que havia grande sintonia em nossas visões. Ao falar à imprensa no momento em que minha indicação foi anunciada, limitei-me praticamente a dizer que a política externa seria levada adiante de forma “ativa e altiva”. Foi esse sentimento, de profundo respeito pela dignidade do país, ao lado da crença na capacidade do povo brasileiro de enfrentar desafios, que norteou nossas posições e iniciativas no cenário internacional. A auto-estima substituiu o inexplicável complexo de inferioridade, que, afora alguns momentos excepcionais, costumava marcar a nossa atuação diplomática.

Celso Amorim em palestra na Casa Portugal em 2016

Durante o governo Lula, o Brasil rejeitou acordos comerciais desvantajosos que se nos queriam impor; trabalhou intensamente pela integração sul-americana; fortaleceu as relações com os demais países da América Latina e Caribe; intensificou laços de amizade com a África e os países árabes e rompeu novos horizontes na formação de fóruns e blocos com as grandes nações emergentes. Sem hostilizar nossos parceiros do mundo desenvolvido (ao contrário, criamos uma “parceria estratégica” com a União Europeia e um “diálogo global”com os Estados Unidos), trabalhamos em favor de um mundo mais multipolar, no qual os interesses do Brasil e dos países em desenvolvimento como um todo pudessem ser afirmados e respeitados.

Durante as duas gestões do Presidente Lula, o Brasil liderou a criação de uma organização política sul-americana (a Unasul) e esteve à frente da iniciativa da CELAC – Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos. Pela primeira vez em duzentos anos de vida independente foi possível criar órgãos que representassem o conjunto da América do Sul, e da América Latina e Caribe, sem qualquer tipo de tutela externa. O fórum IBAS (Índia, Brasil e África do Sul)não somente abriu novos caminhos para a cooperação sul-sul como esteve na raiz da criação do BRICS, que se constituiu em importante fator de equilíbrio na ordem econômica internacional, até então dominada pelo G7 (grupo de economias mais ricas). O Presidente Lula esteve à frente, também, de importantes lutas para erradicar a fome e a pobreza no mundo e para facilitar o acesso de populações pobres a tratamentos de saúde. Sua liderança na reforma das regras do comércio e das finanças internacionais foi amplamente reconhecida, o que se espelhou sobretudo no G20, o grupo das maiores economias, que, para efeitos práticos, substituiu o G7 como principal foro internacional em temas econômico-financeiros.

Erdogan, Ahmadinejad e Lula ao lado de Amorim comemoram vitória no acordo Nuclear com o Irã

No plano da paz e da segurança, o Brasil foi chamado a participar de esforços em prol de uma solução pacífica no Oriente Médio, como ocorreu no caso da Conferência de Annapolis, em relação ao conflito Israel-Palestina (o Brasil foi um dos três únicos países em desenvolvimento não-predominantemente islâmicos a participar do encontro). Juntamente com a Turquia, estivemos, em 2010, no centro de uma importante iniciativa para solucionar o problema em torno do programa nuclear iraniano, que viria servir de inspiração ao acordo estabelecido entre as grandes potências e Teerã, em 2015.

Durante os oito anos em que servi diretamente sob as ordens do presidente Lula, pude testemunhar a admiração que ele inspirava nos estadistas das mais variadas partes do mundo. Não seria exagero dizer que, durante esses anos, o Brasil era um “farol” que apontava o caminho do desenvolvimento em direção a uma sociedade mais justa e democrática em um mundo política e economicamente mais equilibrado. Nesses anos, o respeito pelo Brasil atingiu níveis nunca antes alcançados e a figura do nosso presidente era reverenciada por todos, ricos ou pobres, poderosos ou fracos. 


Em vários momentos, principalmente nas longas viagens ao redor do mundo, participei de conversas reservadas, em que temas de política internacional se misturavam com os da situação interna no nosso país. Durante todos esses momentos, jamais presenciei, da parte do Presidente Lula, gesto ou palavra que não fosse indicativa de sua absoluta integridade moral e dedicação aos objetivos maiores do povo brasileiro. 

Recordo-me de uma primeira viagem pelo interior do Nordeste, em que Lula fez questão de mostrar aos seus ministros (a maioria dos quais oriundos de partes mais bem aquinhoadas do país) a verdadeira realidade brasileira. Constatei, com misto de surpresa e espanto,não só a afeição mas também a confiança que o povo pobre do Brasil depositava no líder que acabara de assumir. Há poucas semanas, acompanhei novamente Lula em um trecho de sua “caravana” àquela região e pude constatar que a mesma relação de confiança se preservou. Melhor: foi reforçada pelos avanços sociais que seu governo trouxe. É, pois, com grande tristeza, que vejo as tentativas daqueles que sempre defenderam privilégios de classe e atitudes de dependência em relação a potências estrangeiras de desconstruir a imagem e a obra daquele que foi, sem dúvida, o maior líder popular que o Brasil já teve.

Lula nos braços do povo

Como tantos brasileiros, confio que a justiça, afinal, prevalecerá e que Lula poderá seguir conduzindo o Brasil no rumo de uma sociedade menos desigual e de uma posição de respeito, independência e dignidade no plano internacional. 

Brasília, 7 de setembro de 2017

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

10 fotos chocantes da crise dos imigrantes


A foto do corpo de um menino sírio de três anos numa praia da Turquia causou grande impacto e consternação ao redor do mundo.




A publicação da imagem do pequeno Alan provocou reações diversas nas redes sociais, com muita gente acusando os países ricos de serem indiferentes à dor e ao sofrimento daqueles que tem sido deslocados de seus lares por violentos conflitos.

Outras imagens publicadas nos últimos anos também se transformaram em símbolo das dificuldades enfrentadas pelos imigrantes que tentam chegar a um país europeu.

Reunimos 10 destas imagens que provocaram grande impacto ao serem publicadas.
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Em 2004, Juan Medina trabalhava nas Ilhas Canárias como fotógrafo de um jornal local quando um pequeno bote se aproximou da praia. A embarcação estava repleta de homens vindos da África Subsaariana. Medina acompanhava uma patrulha da guarda costeira espanhola que se preparava para abordar o bote, quando a pequena embarcação começou a afundar. Nove dos passageiros morreram afogados. Juan Medina retratou o resgate dos malineses Isa e Ibrahim, dois dos 29 sobreviventes. A foto foi premiada em 2005 ganhando o prestigioso World Press Photo Award. 
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As Ilhas Canárias eram, em 2006, um dos principais destinos dos imigrantes africanos. Nessa época, milhares de pessoas se arriscavam numa perigosa travessia de cerca de mil quilômetros pelo Oceano Atlântico, partindo do Senegal e Mauritânia. Muitos chegavam famintos e desidratados. Nesta foto, feita na praia de La Tejita, em Tenerife, turistas tentam ajudar um jovem imigrante. A foto de Arturo Rodriguez ganhou o World Press Award em 2007.
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Ceuta e Melilla, dois pequenos enclaves espanhóis na costa mediterrânea do Marrocos, são ambos destinos frequentes de imigrantes interessados em chegar à Europa. A foto feita por José Palazón, mostra um golfista em meio a uma tacada, observado por um grupo de imigrantes (e um policial) sobre a cerca de arame farpado que demarca a fronteira continental. Palazón disse ao jornal espanhol 'El País' que fez a foto ao perceber o simbolismo da imagem. 
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Ao cruzarem o Golfo de Adén vindos do Djibuti, muitos imigrantes compram no mercado paralelo um chip de celular da vizinha Somália. John Stanmeyer fez esta foto que mostra vários imigrantes tentando conseguir captar o sinal para seus celulares. "Creio que a foto indicava a universalidade de todos nós", disse Stanmeyer. A foto foi vencedora do World Press Award de 2014. 
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Para chegar ao Mediterrâneo muitos imigrantes têm que fazer uma viagem exaustante por terra, suportando um calor extremo e a poeira intensa, como neste lugar isolado em um ponto da fronteira entre a Síria e a Turquia. Ao invés de pessoas, o fotógrafo Murad Sezer, da Reuters, encontrou apenas um berço abandonado. 'Para mim, aquilo era a própria representação de uma certa desesperança', disse ele.
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Massimo Sestini fez esta foto a bordo de um helicóptero da Marinha italiana, em 2014. A imagem, feita em um ponto do Mediterrâneo entre a Líbia e a Itália, era praticamente uma repetição da foto feita no ano anterior, ou seja, mostrava que nada tinha mudado. Mas também era mais impressionante. "De um ângulo perpendicular, consegui a visão de 500 pessoas amontoadas num bote, onde passaram cinco dias e cinco noites, olhando para cima e pedindo ajuda ", disse ele. A foto foi vencedora do World Press Photo Award de 2015. 
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Em abril deste ano, um barco de madeira que transportava imigrantes vindos da Síria e da Eritreia se chocou com as pedras ao tentar aportar na ilha grega de Rodes. Ao ver o acidente, o sargento do Exército grego Antonis Deligiorgis, que tomava um café com sua esposa defronte da praia, mergulhou no mar e conseguiu resgatar 20 dos 39 tripulantes. Um das resgatadas, grávida, deu à luz um menino que resolveu chamá-lo com o nome de seu salvador.
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Esta foto mostra o sírio Laith Majid, com sua filha no colo, ao desembarcar de um bote de borracha usado para atravessar da Turquia para a ilha grega de Kos. O bote estava defeituoso e esvaziava constantemente sob risco de naufragar. A expressão de alívio do pai não passou despercebida. 'A dor de todo um país refletida no rosto de um pai', foi a mensagem que @MaryFitzger postou em sua conta de Twitter após a imagem ter sido publicada pelo 'The New York Times'.
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Em agosto, um dia depois da Macedônia fechar suas fronteiras aos imigrantes, após ter declarado estado de emergência, os que tentavamentrar naquele país tiveram que enfretar os guardas que cumpriam as ordens de impedi-los. A foto feita por Darko Vojinovic, da AP, capturou a expressão de desespero do jovem pai. Na semana anterior, as autoridades macedônias registraram a entrada de 39 mil imigrantes que cruzaram o país em rota para a Hungria, país membro da União Europeia.
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Na semana passada, esta fotografia acabou gerando milhares de compartilhamentos nas redes sociais. 'Quem era o homem que vendia canetas para sustentar sua família em Beirute? E como as pessoas podiam ajudá-lo?' Ele foi identificado como Abdul Halim Attar, um refugiado palestino que vivia no campo de Yarmuk, na Síria. Um campanha para ajudá-lo recolheu US$ 181 mil. Attar quer agora criar um fundo para a educação de crianças sírias.

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Fonte: BBC Brasil

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Planeta Favela



PLANETA FAVELA (PLANET OF SLUMS)
Autor: Mike Davis
Editora: Boitempo (2006)

Se a imagem da metrópole no século XX era a dos arranha-céus e das oportunidades de emprego, Planeta Favela leva o leitor para uma viagem ao redor do mundo pelos realidade dos cenários de pobreza onde vive a maioria dos habitantes das megacidades do século XXI. 

O urbanista norte-americano Mike Davis investiga as origens do crescimento vertiginoso da população em moradias precárias a partir dos anos 80 na América Latina, na África, na Ásia e no antigo bloco soviético. Combinando erudição acadêmica e conhecimento in loco das áreas pobres das grandes cidades, Davis traz a história da expansão das metrópoles do Terceiro Mundo, analisando os paralelos entre as políticas econômicas e urbanas defendidas pelo FMI e pelo Banco Mundial e suas conseqüências desastrosas nas gecekondus de Istambul (Turquia), nas desakotas de Accra (Gana) ou nos barrios de Caracas (Venezuela), alguns dos nomes locais para as aproximadamente 200 mil favelas existentes no planeta. 

Cada aspecto dessa “nova cidade" é analisado: informalidade, desemprego, criminalidade; o gangsterismo dos senhorios que lucram com a miséria; a incapacidade do Estado de oferecer infra-estrutura e casas populares, e em contrapartida sua atuação nas remoções de “revitalização” que abrem caminho para a especulação imobiliária; as soluções ilusórias de ONGs e organismos multilaterais; os limites das estratégias de titulação de propriedade, os riscos ambientais e sanitários de se viver em favelas, com exposição a resíduos tóxicos e carência de saneamento básico; o crescimento do fanatismo religioso; e a disseminação de doenças como cólera e AIDS.