Por Paulo Franco
Recebi a notícia da queda da popularidade de Dilma com certa estranheza, já que na semana anterior sua liderança na intenção de votos mantinha numa posição extremamente folgada com uma movimentação marginal entre os demais candidatos e todos muito distantes dela, em pesquisa feita pelo próprio IBOPE.
Ele venceria em todos os cenarios apesentados. No cenário mais provavel, considerando somente os 3 principais candidatos , Dilma manteve os 43%, Aécio subiu de 14 para 15% e Campos também não alterou seus irrisórios 7%. Para sacramentar a situação confortável de Dilma, no Segundo turno, nessa sondagem ele venceria com um grande foga 47% contra 20% de Aécio, ou 47% contra 16% de Campos e no pior cenário Dilma teria 45% contra 21% de Marina. Ou seja, essa pesquisa veio ratificar o cenário eleitoral.
Quando saíu, uma semana depois o resultado da pesquisa sobre a queda da popularidade, eu divulguei na rede social a seguinte frase: "A sociedade brasileira quer mudanças, com Dilma no comando e mais ninguém".
Uma matéria veícula no jornal eletrônico BRASIL 247, entitulada "O IBOPE ruim e o IBOPE bom: Tem Caroço nesse Angú", me chamou muito a atenção por algumas desconfianças e algumas informações levantadas. Como gosto desse assunto e tenho um conhecimento técnico razoável dele, essa matéria mexeu com o desconforto e despertou minha inércia e decidi entrar mais a fundo, analisando as informações diretamente das fontes: O IBOPE e o TSE.
Da pra frente as coisas foram clareando, cada vez mais a minha sensação do quão violento será o processo eleitoral para a Presidência da República nesta ano.
ANTECEDENTES:
O Golpe de 64 e a Ditadura Civil e Midiática
Antes de fazer um relato sucinto do processo do golpe, gostaria de deixar bem claro que Jango é era muito bom de voto. Peso pesado, coisa que muita gente não sabe, pois ele foi candidato nas duas vezes à vice e não a presidente. Naquela época a votação para Presidente e para Vice-Presidente não era uma chapa como hoje, mas separadamente. Em 1955, Jango, ex-ministro do Trabalho de Getúlio, candidatou-se a vice e se elegeu com uma votação maior que da Presidente eleito: Juscelino Kubischek. Em 1960, candidatou-se novamente a Vice-Presidente e venceu a eleição, embora o seu aliado candidato à Presidencia perdera para Jânio da Coligação PDC (Partido Democrata Cristão) com a UDN (União Democrática Nacional)
Como já é sabido de todos, o golpe de 64 foi um processo em maturação desde a morte de Getúlio. Juscelino caminhou no fio da navalha em todo o seu governo. A classe mais conservadora, capitaneada pela UDN, que já estava fora do poder, desde Getúlio, perdera novamente para Juscelino. Em 1960, finalmente os conservadores elegem Jânio Quadros, mas sua renúncia alterou toda a situação e o humor político de então. O Golpe entra então na sua faze de amadurecimento, com praticas não só de pressões políticas, mas também de atos ilegais.
Na Renúncia de Jânio, João Goulart estava na China e os Conservadores, através dos 3 chefes das FFAA não aceitaram a posse natural e democrática do vice Jango. O presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzilli foi empossado presidente em lugar de Jango.
Todavia essa decisão não era unânime nem entre os políticos e nem entre os militares. A desculpa da ameaça comunista não convencia-os, totalmente. Iniciou-se então a campanha da legalidade, liderada por Brizola e o gal. Machado Lopes, para que a CF fosse cumprida. Entre muitas movimentações e campanhas nos jornais, o Congresso acha uma solução conciliatória: o Parlamentarismo. Jango assumiria a Presidencia do Brasil, tendo poderes diminuindo sendo portanto somente o chefe de estado. Aprovado, Jango assume a Presidência e Tancredo é escolhido como Primeiro-Ministro do governo Jango. Esse foi, na prática, o primeiro ato do golpe de estado, pois a CF fora de fato descumprida.
Em julho de 1962, Tancredo exonerou-se para se candidatar às eleições a Deputado Federal. Assumindo Brochado da Rocha que também se exonerou e depois Hermes Lima. Jango e aliados articula a volta do presidencialismo que passa a vigorar a partir de janeiro de 1963.
Com San Tiago Dantas na Fazenda e Celso Furtado no Planejamento, é lançado o Plano Trienal, um programa progressista e estruturante, para promover as reformas de base , que contemplava as Reformas agrária, fiscal, eleitoral, urbana e bancária. O ambiente político e social foi ficando cada vez mais agitado, de um lado as demandas sociais pelos avanços que já haviam ocorrida na europa há tempos e de outro lado o medo de perdas da classe conservadores em função dessas reformas e o ambiente da gerra fria no seu ápice no plano internacional que inspirava preocupação dos EUA com o Brasil, tendo em vista a revolução cubana em 1959.
As classes conservadoras da época, empresários, políticos radicais de direita, militares e a imprensa, como o apoio dos EUA, o golpe é sacramentado.
Desconhecido (até então) Papel da Mídia e do IBOPE no Golpe de 64
As grandes justificativas para o golpe, sempre foram o perigo comunista, a fraqueza de João Goulart e que a população apoiava um intervenção, um golpe e não o seu governo. Ora engolimos isso, por 50 anos, embora essa lógica não fechava, já que o histórico eleitoral de Jango era exatamento o oposto, como ja foi dito anteriormente. Foi eleito vice com mais voto que o próprio presidente Juscelino, em 1955. Já em 1960, embora o Presidente vitorioso, Jânio Quadros, tenha sido o candidato da coligação conservadora, incluindo a UDN, o vice não foi o candidato da chapa Janista, mas sim da coligação oposta, Jango novamente, tal era o seu vigor eleitoral.
Para minha surpresa e provavelmente de todo o país foi saber, agora, que a Midia contratou o IBOPE para fazer pesquisas logo antes da ocorrência do golpe final, provavelmente para se certificar do qual seria a opinião pública em relação à aprovação do governo, às reformas e à intenção de voto, caso Jango se candidatasse às próximas eleições. Os resultados dessas pesquisas ficaram escondidas à 7 chaves, pelo IBOPE e pelas entidades que o contratou, por todos esses 50 anos. E não era para menos, as pesquisas mostram exatamente o contrario do que era alardeado pela Mídia e pelas instituições comprometidas com o golpe. Pelo que se sabe, o IBOPE entregou a documentação das pesquisas em 2003 para serem preservados nos Arquivos do pensador anarquista Edgard Leuenroth (AEL), do Acervo do IFCH, da UNICAMP.
Foram feiras 3 rodadas de pesquisas: A aprovação de João Goulart, a Intenção de Voto e a aprovação das Reformas de Base, proposta pelo seu governo, como já foi dito anteriormente. Os resultados são surpreendentes. Aprovação de Jango: 69%; Intenção de Votos: 50% declararam que votariam em Jango se ele se candidatasse a Presidente e finalmente; 59% aprovaram a adoção das Reformas porpostas.
Ricardo Kotscho, jornalista e colunista do R7, levantou a seguinte questão em sua matéria que serviu de combustível para essa minha postagem:
"a divulgação destas pesquisas pela imprensa poderia ter alterado o rumo dos acontecimentos, já que para derrubar Jango um dos principais argumentos utilizados pelos golpistas foi a fragilidade do presidente e do seu governo diante do "perigo comunista" que ameaçava o país?".
O Famigerado caso Globo / Proconsult