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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Carnaval 2018: O Brasil visto de fora.

Segue alguns destaques da imprensa européia ao carnaval 2018 do Brasil.

Telejornal Tagesschau da ARD




Jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung

"Dança do vampiro.  A Paraíso do Tuiuti é a vencedora do Carnaval carioca." 

Karneval in Rio de Janeiro 2018 (Getty Images/AFP/M. Pimentel)
Presidente Michel Temer, o vampiro corrupto

Alusões políticas e críticas sociais podem ser encontradas aos montes nas ruas. Já no Sambódromo, a liberdade dos foliões deu lugar a uma lógica marqueteira. Os desfiles são imbatíveis em beleza e fantasia – mas, em tempos de transmissão ao vivo e patrocínio, quase nenhuma escola corre o risco de chocar e incomodar os espectadores na arena e na telinha. Apesar de não haver momento melhor para fazê-lo.

Por isso a escola de samba Paraíso do Tuiuti deveria receber uma láurea por tê-lo feito. Sob o slogan "Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?", ela apresentou a história da escravidão no Brasil. Neste ano se completam 130 anos do fim da escravidão, mas muita coisa ficou: racismo, exploração e opressão continuam sendo temas atuais no Brasil. E eles oferecem muito assunto para críticas à sociedade e às autoridades. A Tuiuti não se acanhou. Ela fez os manifestantes que pediram a destituição da presidente Dilma Rousseff desfilar como marionetes pelo Sambódromo.

No último vagão estava o atual presidente, Michel Temer, como vampiro. Sua reforma do mercado de trabalho, a gosto do mercado, foi apresentada pela escola de samba como obra do diabo. Mesmo que a Tuiuti não chegue à vitória porque outras escolas foram tecnicamente melhores, o seu desfile conseguiu mais do que todos os outros: ele incomodou.


Deutsche Welle

Ala Manifestoches da Paraíso do Tuiuti ironizou manifestantes pró-impeachment, retratando brasileiros manipulados que se vestiram de verde e amarelo e bateram panelas para pedir o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff
Paraíso do Tuiuti - Ala "Manifestoches"


"Manifestoches"


A escola Paraíso do Tuiuti passou de desconhecida a assunto mais comentado do Twitter no primeiro dia de desfiles do Grupo Especial. O enredo tematizou a escravidão e apresentou alegorias críticas às leis trabalhistas e à situação política no país. A ala "manifestoches" ironizou os manifestantes que foram às ruas a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

A Beija-Flor de Nilópolis levou para a Marquês de Sapucaí os problemas sociais do Brasil, retratando as vítimas da violência no país
Beija-Flor mostrou as desigualdades e a violência vitimando crianças

Desfile chocante

A Beija-Flor de Nilópolis levou para a Marquês de Sapucaí os problemas sociais do Brasil, empolgando o público, que continuou a cantar o enredo depois que o desfile acabou. Inspirada na obra "Frankenstein", a escola apresentou paralelos com as cenas de terror vividas por grande parte da sociedade brasileira. Além da violência, a escola também criticou a corrupção e a intolerância.


Le Monde 

media
O jornal Le Monde desta segunda-feira (12) traz um diaporama com as melhores imagens
dos desfiles de domingo, lembrando que mais de 72 mil pessoas assistiram ao
espetáculo no sambódromo do Rio de Janeiro.

Le Monde traz um diaporama com as melhores imagens dos desfiles de domingo (11) no Rio de Janeiro, ressaltando que mais de 72 mil pessoas assistiram ao espetáculo no sambódromo do Rio de Janeiro. 

Le Monde escreve que o desfile ganhou um tom político este ano. "Paraíso do Tuiti atacou o presidente Temer", publica. O enredo da escola, "Meu Deus, está extinta a escravidão?” fez fortes críticas à reforma trabalhista. Um dos principais personagens do espetáculo foi o "presidente vampiro", em alusão à Michel Temer. 

O diário destaca a Império Serrano, que faz seu retorno à elite do Carnaval, depois de oito anos de ausência. Também salienta que a São Clemente homenageou a França e exibe uma foto da rainha da bateria da escola de samba, Raphaela Gomes, "que fez o público vibrar". 


Jornal La Dépêche

Imagem relacionada

O site do jornal La Dépêche também destaca o desfile da última noite no Rio de Janeiro e a mensagem política do evento, "para denunciar a corrupção, a violência e a pobreza que atingem o Brasil", mesmo se "o carnaval é visto como um parênteses para esquecer os problemas do cotidiano".

"Ex-pastor evangélico, o prefeito Crivella é acusado de querer estragar a festa devido a suas convicções religiosas", publica La Depêche. A tradicional Mangueira retratou Crivella como um Judas, em alusão à "traição" do prefeito às escolas. As organizações o apoiaram durante a campanha eleitoral, em 2016. Crivella justificou pela recessão a redução de verbas de R$ 2 milhões para R$ 1 milhão e descreveu o carnaval uma festa "não prioritária". A Mangueira mandou recado ao evangélico: "Prefeito, pecado é não brincar o carnaval!!"

RFI (Radio França Internacional)

A tradicional Mangueira retratou Crivella como um Judas, em alusão à traição do prefeito às escolas. As organizações o apoiaram durante a campanha eleitoral, em 2016
A Mangueira mandou recado ao evangélico: "Prefeito, pecado é não brincar o carnaval!!"

"Pecado é não pular o Carnaval", provoca a Estação Primeira de Mangueira, numa referência ao prefeito do Rio de Janeiro e pastor evangélico, Marcelo Crivella. "Desobedecer para pacificar", canta a Mocidade Independente de Padre Miguel. "Liberte o cativeiro social", pede o coro do Paraíso do Tuiutí. "Salve a imigração", sauda a Portela.

Em São Paulo, a Império da Casa Verde usa a Revolução Francesa para falar do caos na política brasileira, com guilhotina e tudo. Será que o brasileiro decidiu levar a revolta para o Sambódromo? A RFI Brasil conversou com o antropólogo Roberto DaMatta, autor do livro "Carnavais, Malandros e Heróis", e com o presidente da Portela, Luiz Carlos Magalhães, para entender o fenômeno.

O Brasil como um "monstro Frankstein", carente "de amor e de ternura". "Troca um pedaço de pão por um pedaço de céu." "Ganância veste terno e gravata, onde a esperança sucumbiu."

A escola de samba manda um recado ao prefeito do Rio, Marcelo Crivella, pastor evangélico que cortou grande parte das verbas destinadas ao evento. A política, aliás, nem sempre esteve tão presente na avenida, como nos conta o presidente da Portela, Luiz Carlos Magalhães.


Les Echos

Resultado de imagem para carnaval beija flor 2018
A Petrobrás e o rato expressam a corrupção na estatal

Desfile no Rio foi "quase um milagre"

A falta de verba para os desfiles também é assunto de uma coluna assinada pelo correspondente do Les Echos no Brasil, Thierry Ogier. Para o jornalista, diante dos cortes realizados por Crivella, foi preciso "quase um milagre" para que o desfile pudesse ser realizado neste ano.

Além disso, a Petrobras, desestabilizada pelo gigantesco escândalo de corrupção, também não pôde contribuir e distribuir R$ 1 milhão a cada escola, como fazia todos os anos, diz Les Echos. Mas nem todos os patrocinadores sumiram, salientando que a "Renault-Nissan-Mitsubishi escolheu defender as cores da Vila Isabel.
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Fontes: DW, RFI, Falando Verdades, Le Monde

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Criatividade do lulismo está esgotada



Em entrevista ao Brasil de Fato, Vladimir Safatle, professor de filosofia da USP, aponta limitações do lulismo e a falta de radicalidade da esquerda

por Guilherme Diniz da Silva, em 27/02/2013


Autor de “A esquerda que não teme dizer seu nome”, Vladimir Safatle tem sido um dos mais notáveis intelectuais a discutir as questões filosóficas e morais da esquerda mundial. Os desafios impostos pela modernidade e pela crise do capitalismo internacional são alguns dos temas que o professor de filosofia da USP abordou em entrevista ao Brasil de Fato.



Confira abaixo a entrevista.


Brasil de Fato - O senhor demonstrou no seu livro A esquerda que não teme dizer seu nome que a principal luta política é pela redução das desigualdades socioeconômicas e que a esquerda deve ser “indiferente às diferenças”. E que um plano político orientado sob a perspectiva do igualitarismo poderia ser, por exemplo, a determinação de um “salário máximo”, de até vinte vezes o valor do salário mínimo. A proposta de uma política da indiferença de um Estado pós-identitário é possível atualmente no Brasil?


Vladimir Safatle - A ideia de um salário máximo foi apenas um exemplo visando mostrar como políticas de combate à desigualdade podem ser aprofundadas. Na verdade, diria que a luta política deve ser dupla. Por um lado, pela limitação brutal das desigualdades econômicas. Por outro, pela compreensão de que as sociedades contemporâneas são animadas por “zonas de indiferença cultural”. Isto passa por quebrar a compreensão da cultura como ponto de clivagem da vida social. Temos atualmente a tendência de acreditar que sociedades complexas são assombradas por diferenças culturais profundamente irreconciliáveis, com esta que passaria, por exemplo, entre comunidades muçulmanas de imigrantes pobres e classe média “cosmopolita” dos grandes centros europeus. No entanto, a única maneira de superar tais pontos de colisão passa por mostrar como as diferenças externas entre dois grupos são, no fundo, diferenças internas a cada um deles. Por exemplo, não há nada parecido com uma “visão islâmica de mundo”. Ela é tão clivada e contraditória quanto as diferentes visões de mundo que podem existir entre um evangélico convicto e um cristão que há anos não passa na porta de uma igreja. Insistir nestes pontos é uma estratégia possível para impedir que pretensas diferenças culturais se transformem no bloqueio da vida social.